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Aos 25 anos largou o emprego para seguir o sonho. Hoje tem um grupo de brunch de sucesso

Catarina Soares nasceu com um espírito raro de empreendedora. Tem uma mercearia e quatro restaurantes, dos quais dois em Braga.
Conheça a visionária empresária do Minho.

“Para mim, o facto de ser mulher nunca foi um entrave para criar um grupo de negócios na restauração. Foi antes uma alavanca de ‘eu vou conseguir'”. Catarina Soares herdou da avó Pureza esta natureza empreendedora tão rara. Ela tinha uma mercearia na pequena aldeia de Crasto, em Ponte da Barca, e foi lá que a empresária de 35 anos passou a sua infância com a família. Formada em Biotecnologia com mestrado em Biotecnologia Alimentar pela Universidade de Aveiro, sempre gostou de cozinhar e do contacto com o público. Foi por isso que criou em 2016, o grupo MiniMeu..

Catarina diz que o maior desafio não foi ser mulher num ramo dominado, na maioria, por homens, mas antes ser uma miúda ingénua que se aventurou atrás do sonho. “Não sinto que houve um entrave por ser mulher, mas antes por ser muito nova. Era uma miúda de 25 anos a criar um grupo. Mas sempre tive muitas pessoas que me apoiaram, quer a nível pessoal quanto empresarial”, confessa à New in Braga.

E acrescenta: “Ter um negócio próprio não é tão fácil como inicialmente idealizei. Talvez por ingenuidade pensei que seria mais fácil.É preciso fazer um bom estudo de mercado assim como um bom estudo económico para que o nosso sonho e ideia de negócio siga para a frente. Depois disso, uma boa gestão no dia a dia é fundamental, o que nem sempre é fácil. Eu tento diariamente estar em todos os meus espaços, gosto bastante do que faço e faço questão de me entregar apenas ao meu trabalho. A minha sorte é ter uma equipa lutadora como eu”.

Atualmente, conta com cinco espaços na área da restauração, todos na região do Minho. Tudo começou com a abertura do Cantinho MiniMeu, em Arcos de Valdevez. 

“Mal acabei a minha formação comecei logo a trabalhar na minha área, mas o meu lado empreendedor não estava feliz. Sempre tive um amor muito grande pela cozinha e pelos bons momentos que estar à mesa com os amigos, a família ou até sozinhos, nos proporciona. Desde miúda que esses momentos eram muito importantes para mim. Apesar de hoje em dia não ser muito fácil qualquer um ter sucesso nesta área, decidi ir contra tudo e contra todos, para seguir o meu sonho”.

A empreendedora gostava especialmente de fazer bolos e sandes. Por isso, arriscou e abriu o Cantinho MiniMeu. O nome é uma referência ao facto de o espaço ser tão pequeno, mas também por estar direcionado para ser precisamente o cantinho pessoal da Catarina, onde ela poderia confecionar bolos para vender ao público. Anos mais tarde, viria a aumentar a dimensão da loja, para a transformar na Mercearia Pureza, em homenagem à avó.

“Cresci na mercearia de aldeia da minha avó, era das poucas da região e lembro-me de brincar com os meus irmãos entre os sacos de legumes e as caixas de bacalhau. O meu foco era termos venda de produtos à granel, investindo numa oferta maioritariamente biológica, sustentável e de consumo consciente”. 

A jovem ainda relembra que na loja da avó tudo tinha um sentido. As prateleiras estavam cuidadosamente alinhadas, pois exibiam um tesouro de produtos que contavam histórias, desde o azeite vindo da aldeia ao mel recolhido das colmeias locais. E essa acabou por ser a sua inspiração para criar também uma mercearia onde cada produto tenha “toque humano”.

“A Pureza é feita de memórias, um lugar de conversas simples e de partilhas genuínas”, sublinha.

Enquanto estudava, Catarina foi tendo part times em restaurantes e cafés, não só para pagar as contas, mas também para “alimentar” este gosto pelo ramo da restauração, mas sobretudo, o contacto com o público. Os momentos à mesa com a família são fundamentais para a jovem, daí fazer questão em inclui-los, de certa forma, nos seus espaços. Depois da mercearia chamada Pureza, em homenagem a avó, seguiu-se em Ponte de Lima o restaurante Maria Rosa, para celebrar a mãe.

Como se percebe, os nomes dos espaços são pequenas homenagens às pessoas que, ao longo do seu percurso ainda por cá ficaram. “Na minha família tenho apenas uma tia chamada Maria, mas é um nome que gosto, então depois é juntar a esse outro nome para homenagear aos meus mais queridos. Mas já avisei, somos uma família muito grande, não vai dar para homenagear a todos”.

Um espaço instagramável para renovar o mural.

A ambição de crescimento foi algo sempre presente nos planos da Catarina, mas confessa que foi graças aos clientes, que faziam vários pedidos para chegar as suas cidades, que os espaços do grupo MiniMeu chegaram até Ponte de Lima, e daí até Braga, cidade com a qual tem uma especial ligação.

“A minha família materna é toda dessa cidade e sempre fiz e ainda faço questão de ir frequentemente até lá. É uma zona querida e muito importante para mim, era um sítio onde queria estar e um sonho levar o grupo MiniMeu a uma cidade grande”, admite.

Foi assim que nasceu o Maria Luísa, na Rua do Raio, em homenagem à sobrinha, chamada Ana Luísa. Este spot estava em ruínas quando Catarina o descobriu, mas ela percebeu o seu potencial. Acabou com um espaço moderno mas acolhedor, com cerca de 40 lugares num salão com pé direito. Os clientes têm vista direta para o balcão corrido que dá para a cozinha. 

Em 2023, viria a nascer o segundo espaço de brunch do grupo em Braga, o Maria Miguel, no Largo do Paço, em homenagem ao irmão, chamado Miguel. Contudo, não era suposto ser um brunch. Catarina tinha a ambição de trazer a mercearia Pureza até a maior cidade minhota. Mas a escolha do espaço e da zona não foi melhor e passado um mês, teve de fechar. Aí começou mais uma corrida a procura da loja ideal, de preferência numa das principais artérias da cidade.

Finalmente quando deu com o local, pensou: “Aqui não será o Pureza, será o Maria Miguel”. O ponto em comum de todos os espaços em Braga e por todo o Minho é o menu particular. Todos os pratos foram pensados para que possam ser pedidos em qualquer altura do dia, seja ao pequeno-almoço, almoço ou lanche tardio.

“O nosso foco são sempre os ingredientes frescos e sazonais, com pratos criativos e descontraídos, para que qualquer um que nos visite tenha uma boa experiência todos os dias”.

O Maria Miguel tem uma oferta mais alargada que o Maria Luísa. Contudo, ambos apresentam uma boa seleção de tapas, cocktails, pratos para o almoço com inspiração portuguesa como o bacalhau ou o polvo. É uma homenagem ao receituário português, mas com um toque boémio. Ainda assim, as grandes estrelas dos espaços são as panquecas e os chás. Ambos os espaços são pet friendly.

As panquecas são o best seller do grupo.

Catarina conta com o apoio de Ana Guimarães como chef executiva do grupo e com quem, diariamente vai trabalhando nos pratos e nos conceitos de todos os espaços. A grande missão é que os restaurantes tenham um elo de ligação enquanto grupo, mas que também tenham a sua própria identidade. Isto reflete-se nos pratos: todos os espaços têm uma ampla oferta de opções doces, salgadas e ainda uma vertente vegetariana e vegana. Ainda assim, não existem duas cartas iguais — apesar de haver produtos em comum, como as panquecas, mas os sabores e ingredientes vão mudando. 

“Também depende muito do espaço. O Maria Luísa é um espaço mais descontraído e até para famílias. O Maria Miguel é ideal para beber um copo com os amigos ao meio da tarde”, acrescenta a fundadora.

O preço por pessoa nos dois spots em Braga varia entre os 10€ aos 15€.

Apesar do crescimento profissional, o caminho até cá não tem sido propriamente fácil. “Resiliência” tem sido a palavra mais sentida no dia a dia, para garantir o sucesso da sua empresa. Pelo meio, admite que teve de abdicar de algumas coisas e de até ter perdido amigos pelo caminho.

“Perdi algumas coisas, alguns momentos e até alguns amigos que não compreendiam a minha falta de disponibilidade. No entanto, quando estamos a lutar pelo nosso sonho, pela nossa empresa, temos de fazer esforços, abdicar de algumas coisas e de alguns momentos porque o nosso foco é o crescimento”, afirma.

Catarina confirma que a pandemia foi o pior momento para a sua empresa — foi para todos, mas para um grupo que estava em fase de crescimento, foi “muito duro”. Contudo, e apesar de ter abdicado de muitos momentos, partilhas, em prol da sua empresa, não se arrepende. “Agora não sou só eu. São os meus funcionários, os meus fornecedores, os meus clientes. Por eles vou lutar sempre”.

Agora, a bracarense tem a ambição de fazer crescer o grupo, mas para já quer focar-se na consistência. “Gostava de continuar a expandir o grupo, mas neste momento o meu foco é criar consistência nos espaços que tenho. A verdade é que quando comecei era muito nova e pensei que seria mais fácil. Fui crescendo e aprendendo, mas antes de continuar com a expansão, quero manter estas cinco lojas ao mais alto nível”.

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