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No novo restaurante de Braga os pratos “são feitos com amor e para curar”

O Amor Vive na Cozinha abriu a 11 de novembro, pelas mãos de dois amigos que acreditam no poder dos pratos de conforto.
O restaurante.

Diogo Pereira e Celso Amiguinho juntaram-se para criar em Braga um restaurante peculiar. Os dois amigos de longa data acreditam que o cuidado com a saúde e a gastronomia devem viver lado a lado, por isso, a 11 de novembro, abriram perto do Mercado Municipal de Braga, um “espaço de reabilitação de sonhos”.

Na prática, como é que este restaurante funciona? Para explicar o conceito, que mistura influências do Alentejo e do Minho, é preciso conhecer a história dos seus fundadores. Diogo, formado em Fisioterapia, exerceu a profissão durante quase uma década em Lisboa. O seu trabalho levava-o a muitas vezes a acompanhar pacientes ao domicílio. Nas visitas apercebeu-se de que mais do que tratar uma dor física, tinha de atender às emoções. 

Foi neste percurso que conheceu a Celso, especialista em reabilitação e massagem terapêtuica. Tornaram-se bons amigos, até porque acreditavam ambos no mesmo princípio: um simples gestos, como ir tomar café com os pacientes, podia ser tão (ou mais) transformador do que uma sessão habitual de fisioterapia. Contudo, no período pós pandémico foram confrontados com uma realidade inesperada: idosos e pacientes acamados que estavam fechados em casa há demasiado tempo. Foi assim que nasceu o projeto Reabilitação dos Sonhos.

“Percebemo que o poder da fisioterapia podia ir mais além. O nosso projeto pretendia acompanhar as pessoas de uma forma diferente ao habitual. Resgatávamos momentos, memórias, emoções e de certa forma, fazíamos com que as pessoas se voltassem a sentir vivas”, recordam os amigos, de 35 anos.

Existe melhor forma de dar conforto e resgatar memórias do que através da comida? Claro que não. Por isso, Celso e Diogo iam diretamente a casa dos pacientes para cozinhar e “entregar amor em forma de comida”. Os amigos recordam um paciente com Alzheimer, por exemplo, que começou a falar sobre os momentos mais felizes da infância com o pai em Olhão graça a um simples salame de chocolate.

“Em Portugal a mesa sempre foi o elo das famílias. Muitas vezes esse ‘ritual’ tão simples do dia a dia pode quebrar-se ao termos um familiar doente. Era precisamente essa barreira que queríamos quebrar. Dar às pessoas um espaço onde pudessem comer, com faca e garfo, com as mãos, com ou sem ajuda. Era dar-lhes o conforto, a dignidade e o prazer de estar à mesa”, contam.

No verão do ano passado, Diogo, minhoto de gema, decidiu voltar à sua cidade natal e convidou o amigo para darem continuidade ao projeto de uma forma diferente. O Amor Vive na Cozinha era um restaurante famoso na cidade que acabou por fechar portas. Foi uma oportunidade para receber o projeto do minhoto e do alentejano — um espaço onde o cuidado e a dedicação se expressam tanto nos sabores servidos como na forma de acolher as pessoas. É por isso mesmo que a dupla não alterou o nome do espaço, apenas lhe apenas uma nova vida.

“O Amor Vive na Cozinha é um lugar onde a comida cura, reconforta e acolhe. Para nós, cada prato é pensado não apenas pelo sabor, mas pelo impacto que tem no bem-estar de quem o prova. Acreditamos que cozinhar e comer são, em essência, atos de ligação com o mundo. E não nos referimos apenas à alimentação em si. É criarmos, através dos pratos, um espaço de reabilitação, um ambiente de conforto que dá lugar às memórias, relações e à celebração da vida. Aqui o amor vive na cozinha mas também no acolhimento, respeito e valorização de quem chega”, defendem os fundadores.

E acrescentam: “No nosso restaurante todos são bem-vindos. É um espaço livre de preconceitos, onde a diversidade e a inclusão não são apenas conceitos, mas práticas diárias”.

Num espaço que quer ser ponto de encontro para amigos e para amigos dos amigos, bem como casa onde os desconhecidos podem sentar-se ao lado e sair dali com histórias partihadas, os ingredientes “sempre que possível” vêm de pequenos produtores, sobretudo aqueles que encontram ao lado, no icónico Mercado Municipal de Braga. No fundo, valorizam-se os ingredientes frescos, sazonais e carregados de histórias das gentes do campo que vendem no mercado.

Assim, Celso traz do Alentejo a simplicidade e a intensidade dos sabores que fazem lembrar as cozinhas das avós. Apesar de não se considerar um chef, herdou de gerações passadas o prazer de cozinhar para os outros. Não espere encontrar por aqui ensopados, migas ou açordas. As escolhas recaem na memória dos sabores alentejanos com a frescura dos produtos do Minho — e vinhos verdes, claro.

Os amigos definiram uma carta que “respeita as intolerâncias alimentares” e promove refeições equilibradas. O espaço é conhecido pelo Amor Diário, um menu de almoço disponível apenas durante a semana. Por 13€, pode provar o prato do dia, além de sopa ou sobremesa e bebida. Se quiser apenas o prato são 10€. Um dia pode calhar carne, noutro peixe, a única garantia é que existe sempre uma alternativa vegetariana.

Já na carta encontra opções disponíveis para lanchar durante a tarde, como bolo de cacau com recheio de queijo creme (3€), queques de cacau e coco (2€), ovos mexidos com presunto, cogumelos salteados e ervas (8,50€), papas de aveia (6,50€) ou panquecas doces ou salgadas, a partir de 7,80€.

Para o jantar, as propostas ficam pelos hambúrgueres, de lentilha, novilho ou atum (a partir de 12€), tostas salgadas a partir de 7,50€ ou malgas — é um prato que tem base de arroz, folhas verdes e outros ingredientes — a partir de 3,50€.

Os responsáveis pedem aos clientes para fazerem reserva ao almoço e ao jantar, para garantir que as doses são certas e não existe desperdício. Avisar com antecedência pode também ser uma oportunidade para deixar um pedido especial à cozinha, caso o miúdo queira comer só um ovo estrelado com batatas, por exemplo, ou seja preciso criar um menu para um grupo de amigos. 

O Amor Vive na Cozinha quer ser também uma verdadeira extensão da comunidade, por isso vai começar a promover eventos que celebrem a cultura local, desde jantares temáticos, workshops, tertúlias literárias ou apenas “conversas da treta” — tudo faz parte da agenda.

Carregue na galeria para conhecer melhor o espaço e algumas das propostas.

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FICHA TÉCNICA

  • MORADA
    Praça do Comércio, 90
    4700-370 Braga
  • HORÁRIO
  • Segunda-feira a sábado das 10h às 18h30
PREÇO MÉDIO
Entre 10€ e 20€
TIPO DE COMIDA
Portuguesa

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