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O restaurante de Braga que quer “resgatar” a comida tradicional do Minho

A Adega Malhoa está aberta há 22 anos. Desde janeiro do ano passado tem uma nova gerência — e ainda mais ambição.
Conheça o espaço.

Há tradições que passam entre gerações. Podem ser brincadeiras, superstições familiares ou encontros na mesma data todos os anos. No caso da família de Carlos Ferreira, a tradição está ligada ao comércio. A bisavó tinha uma mercearia no centro da cidade, a Pomar Sra-a-Branca, que entretanto passou para os filhos, e anos mais tarde ficou para os pais de Carlos. O espaço é conhecido pelo facto de os produtos exclusivos virem das redondezas de Braga, com especial destaque para os enchidos, legumes, azeite e garrafeira.

Contudo, a ambição de manter viva a essência do comércio tradicional na cidade minhota levou a família a investir numa série de negócios históricos que estavam em risco de serem fechados. A conquista começou há oito anos, quando se tornaram proprietários de A Favorita, um dos mais antigos cafés de Braga. O espaço, fundado há 90 anos, mantém a traça característica das décadas de 60 e 70 e tem uma das melhores esplanadas do concelho.

Seguiu-se a famosa pastelaria com serviço à mesa Frigideiras da Sé. Dois anos mais tarde, tomaram conta da pastelaria e confeitaria gourmet Rosil, com mais de 50 anos de história, e ainda da Doçaria São Vicente, com quase 200 anos de confeção de doces conventuais. Em janeiro do ano passado, a família Ferreira assumiu a gerência da Adega Malhoa, restaurante tradicional português com pouco mais de duas décadas.

“Até há uns anos dizia-se que Braga era a cidade com mais restaurantes por mil habitantes no País. Nos últimos anos, os meus colegas da restauração têm investido em conceitos mais modernos, mais conceituados, e consideramos que a comida de panela começa a perder a sua singularidade. Na Adega Malhoa vimos a oportunidade de resgatar o receituário tradicional minhoto, e servir os pratos mais antigos nos dias de hoje”, começa por contar o jovem de 40 anos à New in Braga.

O famoso azulejo do fado Malhoa.

E acrescenta: “O nosso principal foco é servirmos pratos de conforto de avó. Termos sempre as nossas papas de sarrabulho, arrozes caldosos, de feijão vermelho, tomate, grelhos, a acompanhar o polvo, a petinga, os panados. E claro, o bacalhau à Braga e à Zé do Pipo. Queremos manter-nos o mais tradicional possível e mantermos a essência da comida de panela”.

O nome do restaurante é inspirado no famoso fado Malhoa. Esta letra enfatiza que a obra de Malhoa é uma representação fiel de Lisboa, com a sua vida boêmia e fadista, capturando a essência da cidade e das suas pessoas. Nesse sentido, tal como a pintura e o fado, o restaurante é uma ode à arte, à cultura e à identidade portuguesa, imortalizadas num azulejo pintado à mão no interior do espaço — que conta com 30 lugares. 

É precisamente por isso que Carlos sempre teve a vontade de tornar a Adega Malhoa numa casa de fados. “Tendo o mural do fado da Malhoa, e o facto da própria casa ser antiga, em madeira, com o teto baixinho, faz lembrar as típicas casas de fado. Sempre tive a certeza que isto era para ser uma casa tradicional e de fados. Em Braga não existem muitas casas de fado, há uma ou duas que de tempos vão fazendo, e agora nós. Os bracarenses se quisessem ouvir fado ttinham de ir até ao Porto, agora podem ouvir (e comer) a portugalidade no seu melhor durante o jantar”.

O primeiro teste aconteceu no sábado, 8, Dia Internacional da Mulher. O sucesso foi tal que Carlos reuniu na semana passada com a Associação de Fados de Braga, para tornar a noite de fados numa dinâmica constante no restaurante, com a próxima data marcada para 28 de março.

A Adega Malhoa é conhecida por servir várias especialidades do receituário português, como os rojões à moda do Minho ou as costelas medinha de vitela. Contudo, a grande estrela da casa são, segundo o Carlos, as papas de sarrabulho.

“É um prato que vamos tentar manter até maio, pelo menos. Não há um dia que não seja pedido nesta casa”, admite.

Uma das propostas.

Outro prato de excelência é o bacalhau, seja à moda de Braga ou à Zé de Pipo, bem como o estufado de porco preto. No caso do prato peixe, o responsável garante tratar-se de “bacalhau de primeira”. O demolho é feito no espaço à antiga, e as batatas que o acompanham são feitas diariamente no espaço — não há cá opções congeladas para ninguém. Tudo acompanhado por azeite da terra da mãe, São João de Pesqueira, bem como o vinho da casa que chega da mesma região.

O espaço conta ainda com uma alargada seleção de petiscos, como chouriço assado no barro (4,50€), alheira de caça em cama de legumes (6,50€), moelas e rojõezinhos (a partir de 4,50€), bem como prego no pão simples ou com queijo e presunto (a partir de 6€). Quanto aos preços dos pratos, variam consoante a dose. Nas carnes, os preços começam nos 16€ para meia-dose e nos 30€ para uma dose. Nos peixes, vão dos 15€ aos 36€.

Se quiser reservar mesa para jantares de grupo, o espaço disponibiliza de menus com preços entre os 15€ e os 20€, que incluem couvert, entrada, prato principal, bebidas, café e sobremesa.

FICHA TÉCNICA

  • MORADA
    R. Dom Paio Mendes, 17
    4700-424 Braga
  • HORÁRIO
  • Segunda, sexta-feira e sábado das 12h às 15h30 e das 19h às 22h30
  • Quarta, quinta-feira e domingo das 12h às 15h30
PREÇO MÉDIO
Entre 20€ e 30€
TIPO DE COMIDA
Portuguesa

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