Iolanda Guimarães cresceu a ver a avó paterna a pintar e fazer todo tipo de artes manuais. Natural de Trás-os-Montes, foi no meio de planaltos com vista ao rio Douro, que desenvolveu a paixão pela pintura, o desenho e as artes manuais. Enquanto miúda, passava as tardes livres e os fins de semanas com a avó a desenhar os seus momentos favoritos da infância e as paisagens que ia vendo. O destino levou-a a formar-se em Design de Moda pela Universidade da Beira Interior, mas nunca se desligou das artes.
“O meu percurso no ensino secundário foi sempre ligado as artes, tanto assim que foi nisso que me especializei. Acabei por seguir Design de Moda porque também é uma forma de criar e ter liberdade de expressão e dar voz a criações e inspirações de outras pessoas. Contudo, a ilustração é o meu “cantinho” — um refúgio para descomprimir e levar e cor e memória às pessoas”, começa por contar a criativa de 30 anos à NiB.
Há oito anos, Iolanda escolheu a cidade de Braga para viver. É aqui que trabalha a tempo interior como designer de moda de uma marca portuguesa — que por sigilo profissional e para não associar o seu projeto artístico à vida laboral, prefere não identificar. Alimenta o seu percurso profissional com este hobby onde se refugia para dar vida às suas memórias e às memórias dos outros. Falamos do projeto “i.lus.tra.me” que nasceu durante a pandemia.
“Como estava fechada em casa, em modo de combater a incerteza que todos vivíamos, sem saber muito bem o que ia acontecer, comecei a diariamente fazer um desenho sobre o dia. Fui partilhando nas minhas redes pessoais e como percebi que as pessoas gostavam, criei como hobby, uma página exclusivamente dedicada ao projeto. Só não pensei que fosse a ter o alcance que tem tido”, conta.
Entre tantos tipos de artes, Iolanda escolheu a ilustração porque, diz, é o meio onde sempre sentiu a liberdade de ser ela própria. Além de poder representar memórias, colorir histórias e famílias e saber que o seu trabalho está espalhado pelas paredes e casas de tantas pessoas. “É algo que dá-me imenso orgulho e gosto em continuar a ser melhor”, admite.

Em quatro anos, já soma quase nove mil seguidores no Instagram. É nessa página que partilha diariamente as ilustrações autorais que vai fazendo, bem como trabalhos encomendados. De certeza que já se deparou algumas vezes com este perfil, uma vez que Iolanda ilustrou vários momentos da gravidez da influencer Catarina Gouveia.
Há um ano, Aida Alves, diretora da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, encontrou o trabalho de Iolanda nas plataformas digitais e convidou-a a realizar uma exposição de ilustrações. “Há em Braga muitos espaços de coração aberto para receber arte de artistas emergentes. Considero que tenho tido essas oportunidades com muito trabalho, mas sempre com uma receptividade imensurável. O apoio de quem acolhe as minhas exposições tem sido incrível e só posso agradecer à Aida por me ter dado este primeiro impulso e oportunidade”, acrescenta.
As pessoas são o foco das ilustrações e do trabalho de Iolanda, não é por acaso que na sua primeira exposição, que aconteceu há um ano, juntou-se numa espécie de homenagem às pessoas mais importantes da sua vida: a avó, a família e amigos.
É pelo contacto com as pessoas que esta criativa encontra o seu propósito no mundo — e não só aquelas que ilustra, mas aquelas com quem trabalha. Considera-se uma pessoa que valoriza muito a cultura e uma apaixonada pela arte e a aprendizagem. Adora ir a exposições e conhecer outras culturas, mas acima de tudo, o que mais e preenche é fazer voluntariado com os mais novos, sobretudo em Braga e em Guimarães, onde dirige diversos workshops de artes.
A artista vai recebendo convite ou voluntaria-se em várias escolas, associações, coletivos e outras iniciativas para levar a arte aos mais novos. “É sempre um momento bem passado e que deixa uma marca nas pessoas. Saber de histórias de vida, marcar as pessoas com memórias visuais, a criatividade e liberdade que me dão e que ganham é o mais satisfatório em tudo que faço”, admite.
Recentemente esteve no Mercado da Vila, na freguesia de Palmeira, onde ensinou a fazer ilustrações em tote bags. “É uma forma de atrair os amantes das artes manuais num momento de aprendizagem e expressão criativa. E também é ótimo para quem considera não ter jeito para as artes mas quer encontrar um novo hobby”.
No próximo sábado, 7 de junho, vai estar no Mercado do Largo junto de outras marcas a mostrar o seu trabalho.

Além desta vertente educativa, a criativa tem vindo a investir em exposições onde mostra o seu trabalho. Depois do convite que surgiu há um ano por parte da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, Iolanda aceitou o convite do icónico Palácio do Raio para realizar uma nova mostra de ilustrações.
“Sendo um ano de grande marca cultural para a cidade ao ser Braga Capital Portuguesa da Cultura, a ideia principal era mostrar e valorizar os espaços icónicos e mais conhecidos da cidade, mas sobretudo as pessoas que nele habitam e valorizá-las, uma vez que são elas (e nós) que as movimentamos e fazemos vibrar, assim como são elas que mantém as tradições e fazem a cultura acontecer”, conta.
O Palácio do Raio é um símbolo da cidade — que veio a ganhar, entre outros espaços, outra dimensão graças à exposição de Iolanda, “Linhas de Amor… por Braga”. Este icónico edifício, por exemplo, é uma das mais importantes peças de arquitetura barroca do País. Com mais de 250 anos de história, já serviu de habitação privada e esteve até nas mãos da Santa Casa da Misericórdia de Braga.
Apesar de a mostra se focar, sobretudo, na ilustração da artista, também combina instalações em vídeo, fotografia e documentos de pesquisa que contam a história do passado e presente da cidade. “Esta exposição nasce de um olhar atento sobre a relação das pessoas com a cidade. Os afetos, os gestos do dia a dia, as histórias partilhadas nos espaços que habitam, trabalham ou visitam. Braga é o cenário, mas são as pessoas que lhe dão a alma e preservam as tradições, construindo assim a identidade bracarense”, explica a artista.
A missão de Iolanda é, através da ilustração, captar essa ligação emocional (ou não) entre pessoas e certos espaços. Para reforçar essa ideia, junta a ilustração à fotografia, ao vídeo e à pesquisa para explorar a importância das relações humanas e afetivas na eventual construção da memória e do futuro de uma cidade. Cada traço e imagem pretendem representar a vida do dia a dia na cidade. “É uma homenagem feita de linhas, cor e amor a todos os que vivem a cidade de forma especial”, sublinha.
A mostra inaugurada no início de maio é composta por cerca de 50 ilustrações, 12 fotografias e um vídeo. Pode ser visitada diariamente até 6 de junho, sexta-feira. Depois disso, a artista vai juntar este trabalho numa espécie de livro digital, que será colocado à venda para as pessoas poderem ter estas ilustrações inéditas da cidade e das pessoas que a vivem, com elas. Como já acontece com uma coleção existente sobre Vila Real, cidade de onde Iolanda é natural. Pode espreitar a coleção online.
E se quiser uma ilustração personalizada e feita à medida, Iolanda aceita encomendas através das redes sociais sempre sob orçamento.
