O projeto Braga 25, que assinala a nomeação de Braga como Capital Portuguesa da Cultura, completa seis meses com números que surpreendem e um entusiasmo que não esmorece. Entre janeiro e junho, a cidade acolheu uma totalidade de 1.069 atividades culturais — desde espetáculos, exposições, ações de mediação comunitária até workshops e ciclos de cinema — que atraíram mais de 728 mil espectadores, segundo os dados divulgados pela organização, que promete continuar a manter o ritmo intenso até ao final do ano.
“O que me impressionou, ou ultrapassou o que pensava, é um certo entusiasmo que se sente em torno da programação da Braga 25, traduzido em números, de visitantes e de eventos”, contou Luís Fernandes, coordenador artístico do programa. Para ele, a ambição da Braga 25 vai muito além da quantidade, abrangendo diversas áreas artísticas, o que permite chegar a públicos variados e promover o diálogo cultural numa cidade que quer afirmar-se no mapa da cultura europeia.
“Está a ser um programa muito ambicioso, não só do ponto de vista quantitativo, como também por cobrirmos muitas áreas no espetro artístico”, defende. A programação repartiu-se entre 312 espetáculos, 70 exposições e 324 ações de mediação e participação comunitária, que, além de aproximar o público da arte, promovem a inclusão e o fortalecimento da comunidade. As exposições lideraram a adesão, com mais de 614 mil visitantes, seguidas pela música (cerca de 53 mil) e teatro (mais de 9 mil).
No coração desta capital cultural está a vontade de fomentar a vitalidade do tecido artístico local: 54 por cento dos artistas são bracarenses, 30 por cento nacionais e 16 por cento internacionais. Segundo Luís Fernandes, este equilíbrio é essencial para fomentar a vitalidade do tecido artístico local, criando oportunidades para quem trabalha na cidade, mas também para que Braga se abra ao mundo. “Grande parte do trabalho da Braga 25 tem uma dimensão comunitária, que trabalha em diálogo com diferentes grupos que habitam a cidade, promovendo uma cultura participativa e inclusiva. O programa ‘Desejar’ é um exemplo perfeito dessa dinâmica, construído em diálogo com diversas comunidades de Braga — imigrantes, jovens, a comunidade LGBTQIA+ —, permitindo alargar o alcance e os públicos dos espaços culturais como o Theatro Circo e o Gnration”, reforça o coordenador.
Alguns momentos altos da primeira metade do ano incluíram a passagem de Tiago Rodrigues, diretor do Festival de Avignon, que apresentou em Braga a peça “No Yogurt for the Dead”, a estreia do Teatro Nacional de São Carlos com uma ópera de escala média, e a celebração do centenário do músico Carlos Paredes, com um concerto especial de Mário Laginha.
Além dos espetáculos, a arquitetura e o espaço público também ganharam destaque no alinhamento da Braga 25, com intervenções e projetos que procuram integrar a arte no quotidiano dos bracarenses, valorizando a cidade enquanto palco cultural vivo. O programa Todo-o-Terreno, que apoiou dez iniciativas independentes, é outro exemplo do compromisso com a diversidade cultural e a inovação.
A nova identidade visual de Braga 25, desenvolvida em parceria com uma agência lisboeta, simboliza essa conexão entre tradição e modernidade, e foi pensada para refletir a cidade como um centro dinâmico de cultura e criatividade. O presidente da Câmara Municipal, que conversou com a New in Braga, destacou que o projeto é uma oportunidade para consolidar a imagem da cidade no panorama nacional e europeu, criando um legado que perdure muito para lá de 2025.
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Sobre o futuro próximo, o programa cultural não vai abrandar: no verão, o festival Julho é de Jazz traz nomes internacionais como Peter Evans e Ava Mendoza, misturando jazz contemporâneo e fusões sonoras inovadoras. Agosto será marcado pelo festival Extremo, que decorre no Monte de Santa Marta das Cortiças, reunindo música eletrónica e outras expressões contemporâneas, numa colaboração com a Câmara de Guimarães.
No cinema, destaque para a continuação de ciclos temáticos, a programação da Noite Branca de Braga e a estreia do filme “Naquele Dia em Lisboa”, de Daniel Blaufuks, que será exibido em setembro com música ao vivo de Matthew Herbert — uma parceria que junta cinema e música numa experiência única.
A música clássica tem também espaço garantido, com a interpretação de “In C”, de Terry Riley, celebrando os 90 anos do compositor sob a direção do maestro Pedro Carneiro. O Festival Castro-Galaico aproxima Braga da Galiza, trazendo uma dimensão cultural transfronteiriça que reforça o espírito da capital cultural.
O circo contemporâneo estará representado pelo festival Vaudeville Rendez-Vous, que pela primeira vez se realiza num formato ampliado em Braga, como já noticiámos, enquanto os festivais Sons do Noroeste, Semibreve e Utopia Braga completam uma agenda musical diversificada.
No outono e inverno, esperam-se ainda a passagem da Companhia Nacional de Bailado em outubro, o programa de debate Cenários do Teatro D. Maria II, em novembro, e a estreia absoluta do novo espetáculo do encenador Marco Martins, em dezembro — reforçando o compromisso com a produção nacional e a programação de qualidade.
Luís Fernandes sublinha que, mesmo depois de Braga entregar o título de Capital Portuguesa da Cultura a Ponta Delgada em 2026, muitos projetos e apoios a artistas locais terão continuidade, como o programa Supracasa, que será integrado no Theatro Circo, garantindo que o legado do ano cultural permaneça vivo.
Para quem ainda quer aproveitar o ano cultural, a programação continua a convidar a descobrir Braga através de múltiplas linguagens artísticas, em espaços tradicionais e em áreas de vivência pública, onde a cultura se confunde com o dia a dia da cidade. Braga 25 reforça assim a cultura como uma ferramenta de transformação social, identidade e desenvolvimento sustentável.
No fundo, Braga 25 é uma celebração da criatividade, da diversidade e da comunidade — uma oportunidade para todos os bracarenses e visitantes serem protagonistas ativos deste momento histórico na vida da cidade.