Dizem que o Caminho de Santiago começou com uma estrela. Segundo a lenda, no século IX, um pastor galego seguiu uma luz misteriosa até encontrar o túmulo do apóstolo São Tiago. Assim nasceu a rota de peregrinação mais antiga e simbólica da Europa, traçada por fé, silêncio e descoberta. Desde então, milhares de peregrinos percorrem os trilhos que cruzam o continente até Santiago de Compostela — e Braga, ponto de passagem histórica, sempre desempenhou um papel essencial nesta jornada espiritual.
Agora, a cidade volta a afirmar essa ligação com uma nova obra que convida à contemplação. Chama-se “Ascensão” e é da autoria do artista Mário Martins. A escultura foi oferecida pela Associação Amigos do Convento, no âmbito do projeto “Baluartes do Caminho”, e foi inaugurada junto ao Convento de São Francisco de Real, em Montélios, num local que faz parte da passagem tradicional dos peregrinos.
A cerimónia de entrega decorreu no dia de São Frutuoso, data simbólica para Braga, e contou com a presença do presidente da Câmara Municipal, Ricardo Rio, da vereadora Olga Pereira e do Secretário de Estado da Cultura, Alberto Santos.
Com linhas elegantes e formas entrelaçadas, a escultura representa um novo marco no Caminho de Santiago, mas também um tributo ao próprio território. “A peça simboliza, de forma eloquente e memorável, a ascensão espiritual que o Caminho representa, evocando a memória de São Frutuoso e a ligação de Montélios ao surgimento do culto jacobeu na região bracarense”, explica a Associação Amigos do Convento.

A escolha do local — um terreno da antiga cerca do convento — tem um significado especial. Por ali passam, todos os anos, inúmeros peregrinos que atravessam Braga em direção à Galiza. A partir de agora, o percurso ganha um novo ponto de paragem: um espaço de arte, reflexão e homenagem ao espírito do Caminho.
Para Ricardo Rio, este é “um contributo valioso para o património artístico e cultural do concelho”. O autarca sublinha que a obra reforça “a valorização e promoção dos Caminhos de Santiago, reconhecendo a sua dimensão religiosa, turística e económica”.
De facto, Braga tem vindo a afirmar-se como um nó central nas rotas jacobeias portuguesas. A cidade preserva igrejas, marcos e monumentos que testemunham séculos de peregrinações. A escultura “Ascensão” vem juntar-se a esse legado, ligando o passado espiritual da região à sua vitalidade contemporânea.
Com mais de mil anos de história, o Caminho de Santiago não é apenas uma rota de fé — é também uma experiência de encontro e de arte. O projeto “Baluartes do Caminho” nasce precisamente dessa ideia: criar uma rede de obras que dignifiquem os locais por onde passam os peregrinos, unindo a arte pública ao património espiritual.
A “Ascensão”, com o seu movimento curvo e ascendente, parece elevar-se do chão como uma chama. O escultor Mário Martins descreve a peça como “uma metáfora da caminhada humana, feita de esforço, fé e beleza”. A leveza das formas, talhadas em pedra clara, convida a olhar para cima — e talvez a perceber que o verdadeiro destino do Caminho nunca foi apenas Santiago, mas o que cada peregrino encontra em si ao longo da viagem.

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