O açúcar é amplamente reconhecido como um responsável pelas cáries — um facto que praticamente todos os miúdos já conhecem. As idas ao dentista costumam incluir advertências sobre a importância de moderar o consumo de produtos açucarados e de manter uma boa higiene oral, especialmente após a ingestão de doces. Recentemente, um estudo revelou que não é apenas o açúcar que contribui para o surgimento de cáries; o amido, presente em diversos alimentos ricos em hidratos de carbono, também contribui para este problema.
A hipótese foi proposta por investigadores da Universidade de Cornell, em Nova Iorque, EUA, num estudo publicado a 26 de fevereiro na revista “Science Daily”. Os cientistas analisaram a reação dos microrganismos orais ao amido e descobriram que, dependendo da composição genética dos indivíduos, este pode provocar mais danos na cavidade oral.
O responsável é um gene denominado AMY1, que regula a produção da amilase salivar — uma enzima que facilita a conversão do amido em açúcares durante a digestão. O número de cópias deste gene varia entre 2 e 20; quanto maior a quantidade, mais eficaz é o processo de degradação do amido.
A maior eficiência na conversão resulta na produção de mais açúcar, o que, por sua vez, alimenta mais bactérias, aumentando o risco de cáries e doenças gengivais.
Os investigadores examinaram diferentes tipos de bactérias presentes nos dentes, destacando a Streptococcus e a Porphyromonas Endodontalis, cujas quantidades eram superiores em indivíduos com mais cópias do gene.
“A conclusão que podemos tirar é que, dependendo da quantidade de cópias de AMY1, devemos estar mais atentos e ser mais rigorosos na lavagem dos dentes após consumirmos alimentos ricos em amido”, alertam os cientistas.
A publicação sugere que a variação no número de cópias deste gene pode ser atribuída a populações que, ao longo da história, consumiram grandes quantidades de alimentos ricos em amido e, por isso, desenvolveram uma resposta adaptativa maior à sua presença na boca. No passado, essa adaptação pode ter sido benéfica para a sobrevivência, mas atualmente implica um risco elevado de problemas dentários.