O stress do dia a dia e alguns episódios específicos da nossa vida podem afetar a nossa saúde mental de forma mais intensa do que imaginamos. Durante demasiado tempo, a saúde mental foi desvalorizada e, apesar de nos últimos anos ter ganho cada vez mais importância, há quem acredite que ainda existe um longo caminho para realmente valorizar, de certa forma, a nossa saúde mental.
É nesse sentido que Jenny Santos, bracarense de 49 anos, se juntou a mais sete empresários e profissionais de diversas áreas para criar a Auxilium, uma associação que quer pôr toda a gente a falar sobre saúde mental, sem deixar ninguém de fora — mulheres, homens e até miúdos. Desde pelo menos há dois anos este grupo estava a procura de uma temática que tivesse algum impacto na comunidade para criar uma associação que fizesse algo pelo dia a dia das pessoas.
“Unimos esforços mas os temas que íamos debatendo não nos preenchiam. Estivemos quase por criar um projeto ligado à literacia financeira, mas não era bem o que queríamos”, começa por contar a empresária que é formada em Humanidades e Ciências Religiosas e dona do ginásio VIP Personal Trainer Boutique.
No início do ano passado depararam-se com o tema da saúde mental. A filha da Jenny, Bárbara, teve um AVC bilateral. Perdeu a memória, raciocínio, confundia as línguas e simplesmente não sabia onde estava, no tempo e espaço.
“É horrível para uma mãe olhar nos olhos da própria filha e não a ver. Ver um vazio. Eu própria tive de ir buscar uma força mental tamanha que nunca pensei ter. Chorei muitas vezes sozinha, sem ajuda, porque me ensinaram a ser forte. O stress, o trabalho em excesso conjugado com outros fatores quase que me tiraram a minha filha”, recorda.
Felizmente, Bárbara conseguiu recuperar sem sequelas, mas foi a partir desta experiência que Jenny e os seus sete amigos se aperceberam de que a saúde mental era um todo. Dinamizada por um grupo multidisciplinar de áreas como psicologia, desporto, educação, direito e até medicina, a Auxilium foi pensada por pessoas que querem fazer a diferença e pelo desejo de promover um diálogo aberto sobre saúde mental.
“Mais do que uma organização, queremos ser um movimento que promove a solidariedade, empatia e construção de uma sociedade mais saudável e resiliente. A nossa missão é fornecer apoio personalizado e acessível a todos, independentemente da sua condição, quebrando os estigmas que ainda envolvem a saúde mental”, defende.
Esta missão reflete-se no logotipo da Auxilium, representada pelo elefante. O animal simboliza a sabedoria, persistência, solidariedade, companheirismo. Por outro lado, é um espécie que nunca deixa a sua manada para trás. Além disso, “o tema da saúde mental continua a ser o elefante no meio da sala”.
“Depois da Bárbara ter tido a alta, fomos passar férias a Malta, um destino habitual entre a nossa família. Fomos ao restaurante italiano favorito dela e quando nos sentámos na mesa, estava uma garrafa de azeite em forma de elefante. Pareceu uma sinal do universo”.

O passo seguinte foi escolher um conjunto de pessoas “de bom coração, de alma intensa, altruísta e de uma competência e profissionalismo inquestionáveis”. Paulo Martins, treinador de andebol e empresário, faz parte da direção da associação, juntamente com a Jenny. O amigo de longa data da bracarense admite que falar da saúde mental é reforçar a ideia que ela é tão importante quanto falar da saúde física. O painel é completado por Glória Ferreira, advogada especializada em direitos de crianças e mulheres; Séli Sousa, psicóloga na área escola; Liliana Carvalho, médica veterinária; Susana Pedras, psicóloga clínica e professora auxiliar e investigadora integrada no Centro de Investigação em Psicologia para o Desenvolvimento Positivo da Universidade Lusíada-Norte; e Ivete Nabais, terapeuta holística.
A diversidade de áreas profissionais dos fundadores da Auxilium é um dos pilares que sustentam a missão da organização que pretende desmistificar a saúde mental em todas as idades. É um esforço coletivo para garantir que ninguém fique para trás.
“O tema da saúde mental é tão vasto que ficávamos aqui horas a falar. Temos o exemplo da saúde mental nos idosos porque se sentem abandonados. Ou em mulheres acima dos 30 e 40 anos, porque dedicaram a sua vida aos maridos e aos filhos e deixaram-se um pouco de lado. Ou quem está a começar uma carreira. Considerámos que a saúde mental tem um leque vasto de tema para abordarmos”, reforçam.
O grupo acredita ainda na importância de quebrar preconceitos. “Há quem ache que pedir ajuda é sinal de fraqueza, quando na verdade é um ato de coragem. Todos nós passamos por momentos difíceis e precisamos de apoio. A Auxilium quer mostrar que não há problema em não estar bem quando vivemos numa sociedade onde é quase obrigatório parecer bem”, sublinham.
Nesse sentido, o maior objetivo da associação é a prevenção de problemas associados à saúde mental, como a depressão. Para isso, vão começar a promover workshops, formações e outro tipo de cursos, para ensinar as pessoas a lidar com as emoções nas mais diversas áreas das suas vidas.
Por outro lado, a associação encontra-se a desenvolver um site e uma aplicação, onde as pessoas, se necessário, podem consultar e marcar acompanhamentos personalizados com os profissionais que compõem a direção da Auxilium. O objetivo é passar a trabalhar com outras entidades e instituições a nível local e nacional, para chegar ao maior número de pessoas possíveis.
A associação encontra-se a dar os seus primeiros passos, por isso promete em breve, anunciar nas redes sociais a agenda com os workshops e encontros, sempre de forma gratuita, que vai promover em diferentes espaços de Braga. A ideia passa também por começar a trabalhar lado a lado com a Câmara e as Juntas de Freguesias, para chegar aos casos mais sensíveis que sejam identificadas por estas entidades.
Até lá, carregue na galeria para conhecer as dicas de uma nutricionista para transformar as resoluções de Ano Novo em objetivos.