No cinema, algumas histórias ganham vida própria pelo espaço onde se desenrolam, quase como se o próprio cenário fosse uma personagem. Em “On the Black Hill”, filme de Andrew Grieve, adaptado do romance de Bruce Chatwin, a paisagem rural tem um papel tão determinante quanto os protagonistas. Os gémeos Lewis e Benjamin Jones crescem numa quinta isolada na fronteira entre o País de Gales e Inglaterra, que não é um mero fundo, mas uma parte ativa da trama, moldando a existência dos personagens e dando sentido às suas recordações. Esta atmosfera bucólica, onde o tempo parece desacelerar e cada elemento da natureza carrega significado, é o mesmo espírito que se respira na Quinta de Chousas, um refúgio campestre a pouco mais de dez quilómetros do centro de Braga.
Inaugurado em maio de 2023, o agroturismo surgiu do desejo familiar de preservar as tradições familiares. “Não abandonem as vossas raízes familiares”, ouvia regularmente João Pereira, de 27 anos, que passou quase toda a vida naquela quinta secular, situada em Crespos, Braga.
Aberto em maio de 2023, este agroturismo nasceu de um pedido familiar. “Não abandonem as raízes familiares”, recorda João Pereira, de 27 anos, que cresceu praticamente toda a vida naquela quinta secular em Crespos, Braga. Com cerca de 150 a 200 anos, a propriedade pertenceu aos seus tios-avós, e estava dedicada à agricultura tradicional — cultivo de cereais, milho e produção de vinho que sustentaram a família durante gerações. Com o passar dos anos, as culturas tornaram-se insustentáveis. Embora João e os irmãos tenham enveredado por outras profissões, não quiseram perder a ligação às origens. “Foi assim que surgiu o turismo rural, queríamos encontrar uma forma de manter a nossa identidade e tradição”, explica.
O antigo varandão, onde se secavam e malhavam os cereais, estava em ruínas. A reconstrução foi inevitável, mas sempre com um cuidado: preservar a identidade do espaço. “Restaurámos e recuperámos vários móveis antigos, como as cadeiras, e utilizámos as antigas cortinas. A estrutura original mantém-se e conseguimos um equilíbrio harmonioso entre a parte mais antiga e a moderna, criando um ambiente aconchegante”, conta. Assim nasceu a Quinta de Chousas, transformando a memória num espaço de acolhimento.
A propriedade estende-se por cerca de três hectares, com mais quatro de vinhas, em volta do alojamento. O ambiente é de um autêntico postal rural: o chilrear dos pássaros, o som das águas de um riacho vizinho e os tons verdes dos campos a perder de vista. É um projeto familiar que continua a carregar o espírito comunitário de outrora. “Foi algo que sempre nos foi transmitido pelo meu tio-avô. Era uma casa aberta a toda a gente. Na Páscoa, abríamos as portas e muitas pessoas da freguesia vinham cá beijar a cruz”, relembra João. As vindimas e a apanha do milho eram igualmente momentos de festa, memórias que agora se prolongam de outra forma, através da partilha com os hóspedes.
A Quinta de Chousas tem cinco quartos duplos, cada um com o nome de campos agrícolas que marcaram a vida da família: Corgo, Eido, Lameira, Fonte e Seara. Todos estão equipados com Wi-Fi, televisão, climatização e casa de banho privativa. O quarto Eido, de 25 metros quadrados, dispõe de varanda espaçosa com vista para o jardim. O Lameira, de 22 metros quadrados, abre as janelas sobre a piscina e o jardim. O Corgo e o Fonte oferecem vistas sobre a vinha e os espaços verdes, enquanto o Seara, no piso inferior, também se abre para a vinha. Os preços começam nos 130€ por noite, com a possibilidade de arrendar a casa completa, mediante orçamento e disponibilidade.
No interior, há ainda uma sala comum e uma cozinha totalmente equipada, pensadas para refeições rápidas e momentos de convívio. No exterior, a piscina de nove metros é um convite irresistível nos dias quentes, rodeada de espreguiçadeiras, jardim e vários recantos verdes, incluindo baloiços e camas de rede. O lago com patos, as ovelhas e galinhas que circulam pela quinta acrescentam autenticidade à experiência, reforçando a sensação de estar num espaço vivo, com alma.
Para quem gosta de explorar, há bicicletas disponíveis para descobrir a região, incluindo praias fluviais nas redondezas. E não faltam pontos de interesse a curta distância: o Santuário do Bom Jesus fica a apenas oito quilómetros, o Theatro Circo a dez, Guimarães a 25 e o Parque Nacional da Peneda-Gerês a 30. São opções que transformam qualquer estadia numa verdadeira escapadinha entre cultura, história e natureza.
A experiência começa logo de manhã, com o pequeno-almoço continental, servido entre as 7h30 e as 11 horas, onde não faltam opções vegan. É mais um detalhe que traduz a filosofia do espaço: receber todos de forma calorosa, mantendo o equilíbrio entre tradição e modernidade.
A Quinta de Chousas é um prolongamento da família que a criou. Carrega o passado agrícola da região, mas oferece o conforto exigido pelos viajantes contemporâneos. É, como resume João Pereira, “um refúgio bucólico, onde o conforto e o contacto com a beleza e simplicidade da vida rural se encontram em harmonia”.
Como lá chegar
Desde o centro de Braga, siga pela rua de São Geraldo em direção a Avenida da Imaculada Conceição/N103. Continue cerca de três quilómetros e meio pela N103 até o Largo da Estação e tome a saída em direção EN201 para a N101. Após oito quilómetros saia pela N 14 e N205-4 para a EM565 em Santa Lucrécia de Algeriz e continue cerca de três quilómetros pela CM1286, em direção à rua de Chousas, em Crespos. Demora cerca de 20 minutos a chegar ao destino.
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