Era 20 de maio de 1875, quando o rei D. Luís I embarcava numa viagem experimental que levaria, pela primeira vez, o comboio até o lado norte do Douro, mais especificamente até a recém inaugurada Estação Ferroviária de Braga, desde a estação de comboios de Campanhã, no Porto. No dia seguinte, 21 de maio, iniciou oficialmente o serviço regular no ramal bracarense, que liga a estação de Nine, na Linha do Minho.
No Porto, na estação do Pinheiro (Campanhã), reuniram-se autoridades, militares e convidados ilustres para assistir à cerimónia de partida das locomotivas N.º 1 Porto, N.º 2 Braga e N.º 3 Ave, que foram benzidas pelo reverendo prelado. Ao longo do percurso, nas estações de Ermesinde, Famalicão ou Nine, o comboio inaugural, onde viajava a Família Real, foi recebido com entusiasmo pela população, que saudava a iniciativa de progresso.
Em Braga, a receção foi calorosa. A cidade preparou uma cerimónia para acolher a Família Real, com missa na Sé. Braga ficou servida pelo moderno modo de transporte, através da rede ferroviária em desenvolvimento no país, na extensão total de 134 quilómetros.
No século XIX, o caminho de ferro, a locomotiva e o comboio eram verdadeiros símbolos de progresso — marcando a entrada e saída dos territórios e nações na senda da modernidade, destacando-se entre os outros. Deixando de lado este dado curioso (e importante), é de destacar que o comboio de Braga tem sido protagonista de diversos factos históricos muito relevantes. Recuamos, por exemplo, até 15 de maio de 1982, quando o Papa João Paulo II viajou entre Lisboa e Braga, numa composição especial que tinha como destino final o histórico Santuário do Sameiro, onde realizou uma missa na basílica para 400 mil pessoas vindas de toda a região norte.
A 29 de dezembro de 1992, a cidade viria a ser protagonista novamente — mas por uma das suas maiores tragédias ferroviárias. Do descarrilhamento de um comboio de mercadorias, resultou uma vítima mortal, vários feridos e um sentimento de pânico na população para futuras deslocações neste transporte urbano.
Ao longo dos anos, a Estação Ferroviária de Braga sofreu várias alterações e modernizações. Avançando até 2004, foram abertos os serviços Urbano CP-Porto e Alfa Pendular, que viriam a facilitar as deslocações de ida e volta dos bracarenses e minhotos até Lisboa no mesmo dia. Este foi um dos maiores incentivos para as pessoas da região começarem a usar com maior frequência os serviços do comboio, além de ter permitido a reformulação total dos ramais de Braga e até de Guimarães.

De destacar que o ramal de Braga foi a primeira empreitada ferroviária do País a ser projetada e construída inteiramente com recursos financeiros do Estado e com o “know-how” de engenheiros portugueses. Desde a sua fundação, o caminho de ferro foi fundamental para o crescimento e desenvolvimento da maior cidade minhota e dos concelhos circundantes, fomentando ainda a mobilidade de pessoas, mercadorias e até ideias. Certamente nos dias de hoje, Braga seria uma cidade diferente se não tivesse sido ligada à rede ferroviária nacional praticamente desde o início da sua construção.
É precisamente para assinalar a importância de décadas de existência — mas sobretudo aquela viagem experimental que ocorreu há 150 anos, que o Município de Braga, a CP — Comboios de Portugal e a IP — Infraestruturas de Portugal, convidaram à NiP, entre outros convidados, a acompanhar uma sessão comemorativa da chegada do comboio a Braga.
A iniciativa contou com uma viagem evocativa que nos levou da Estação de Campanhã, no Porto, até à Estação de Braga. A viagem estava marcada para as 14h50 desta terça-feira, 20, mas fizemos questão de chegar uns minutos antes. A emoção já se fazia sentir entre os convidados, A viagem foi animada pelos Ardinas Braga25, interpretados por atores da companhia Malad’arte, com cerca de 120 avós bracarenses.
Uma vez em Braga, pouco antes das 16 horas, foi inaugurado um mural evocativo desta data histórica. Trata-se de uma homenagem à “importância histórica e cultural do transporte ferroviário na região e no País”, afirmou Olga Pereira, vereadora da Câmara Municipal de Braga, que acompanhou a viagem de início a fim.
O mural que ficará em permanência na Estação de Braga conta a história de quando o primeiro comboio chegou à cidade em 1875 e a evolução dos caminhos de ferros minhotos até aos dias de hoje. Seguiu-se a conferência “Braga — Presente e Futuro do Caminho de Ferro na Região”, onde além da vereadora bracarense, estiveram presentes Pedro Moreira, presidente do Conselho de Administração da CP, e Miguel Cruz, presidente do Conselho de Administração Executivo da IP.
Nesta conferência foi explorada a importância deste transporte urbano e os planos a seguir na região para continuar a investir no projeto. Uma das prioridades a concretizar ao longo deste ano é a construção da ligação ferroviária direta entre Braga e Guimarães. O distrito de Braga é servido na totalidade pela Linha do Minho e pelos ramais de Braga e Guimarães, sendo que estes dois concelhos estão integrados nos comboios urbanos do Porto, sem uma ligação direta entre eles.
Da mesma forma, não existe ligação entre esta duas cidades e Barcelos. Esta ligação direta viria a unir não só os dois concelhos, como os seus mais de 350 mil habitantes, aos quais se juntam os concelhos limítrofes que beneficiariam desta ligação.
“A ferrovia foi determinante para o crescimento da cidade e continua a ser essencial para garantir uma mobilidade eficiente, segura e sustentável. Braga está em crescimento a nível populacional e esse facto deve obrigar o estado central a dar respostas e investimentos à altura desse crescimento, com mais e melhores ligações que vão de encontro às necessidades da população. Acreditamos que Braga pode e deve estar na linha da frente da modernização da ferroviária em Portugal e esta celebração é também um compromisso com o futuro da mobilidade na nossa cidade e região”, defende a autarca.
Por sua vez, Pedro Moreira, presidente da Comboios de Portugal, assumiu que a empresa quer continuar a apostar na renovação da frota e na melhoria dos serviços. “O trabalho que temos feito, aliado a algumas políticas de incentivo à utilização do transporte ferroviário, como os passes gratuitos para os jovens ou o Passe Ferroviário Verde, tem alavancado a transferência modal para o comboio e conduzido a um aumento de passageiros substancial. No ano passado, transportámos 188 milhões de passageiros. Só a estação de Braga foi utilizada por 2,5 milhões de passageiros, um aumento de 20 por cento de utilização da linha em relação a 2023”.
A sessão acabou pelas 17h30, com a viagem de regresso à Estação de Campanhã, no Porto.